Minha mãe e eu temos a tradição de assistir ao The Voice todas as terças e quintas. Também assistimos à novela das 21, então, nesses dois dias, o The Voice acaba sendo um prolongamento da sessão noturna entre mãe e filho. Embora seja uma tradição, nossa relação com o programa é diferente. Enquanto minha mãe é uma fã devota que assistiu a todas as temporadas fielmente, apesar de não se lembrar dos candidatos que venceram, nem mesmo do vencedor da temporada que terminou há algumas semanas; eu gosto apenas da fase das audições às cegas, que eu costumo chamar de “etapa das cadeiras”.
O programa exibido na última terça-feira era
mais uma episódio de alguma fase de que eu não gosto, mas eu assistiria para
honrar a tradição do momento mãe e filho pós-novela. Tudo transcorria bem, ou
seja, nenhuma apresentação excepcionalmente boa, até que uma competidora cantou
“Ain’t no other man”, da Christina Aguilera. Imediatamente eu comentei: algumas
músicas não deveriam ser escolhidas por candidatos de programas de competição
musical. Minha insatisfação com a performance da competidora não foi pouca e, de
acordo com meu refinado conhecimento do mundo fonográfico, havia sido uma
completa vergonha, embora ela tenha sido escolhida pela respectiva técnica para
avançar para a próxima etapa da competição. Em seguida, depois de mais algumas
performances que não são dignas de nota, veio a derradeira apresentação de “Disk
me”, da Pabllo Vittar. Mais uma vez, segundo meu apurado e profundo domínio de
técnicas vocais, foi um fiasco sem tamanho e dessa vez, inclusive, minha mãe
concordou. No entanto, a participante também foi a escolhida para seguir na
competição. Por fim, eu e minha mãe desistimos de assistir. Desliguei a TV com
certa indignação e minha mãe foi para seu banho.”Um absurdo!”, ela disse antes
de entrar no banheiro.
Depois disso o que me restava? Passar o restante da noite
ouvindo as versões originais das músicas que, conforme meu brilhante talento
como produtor musical, haviam sido ultrajadas. Embalado pelas músicas, que agora
estavam sendo cantadas e tocadas como deveriam ser, uma reflexão me ocorreu:
será que os técnicos do programa foram absurdamente injustos ou eu e minha mãe
não temos conhecimento, domínio ou talento algum para a música?